quinta-feira, 8 de maio de 2008

Entrevista inedita do Vander Lee - 06/05/2008



Entrevista concedida a Sergio Rogrigues Reis do site DIVIRTA-SE em CuLtura

Aos 42 anos, Vander Lee troca o burburinho da metrópole pelo contato com a natureza para repensar a vida, superar angústias e buscar novos caminhos estéticos para suas canções.


Ele já foi Vander Lee Natureza, Vanderlei, Wanderly e, desde 1997, assumiu o nome artístico que o projetou para todo o país: Vander Lee. Mas não descarta, mais adiante, outra mudança: Van der Lee, inspirado na numerologia. "Nada me impede de mudar. Sou de três do três de 66. Dividir meu nome em três partes não seria má idéia", brinca o cantor e compositor mineiro, pronto para entrar em estúdio em junho para gravar outro disco autoral, ainda sem título, mas com o conceito já definido.
Cansado do tumulto de Belo Horizonte, ele se mudou, há dois meses, para um condomínio fechado perto da capital. A maturidade, a proximidade com a natureza e a possibilidade de ter mais tempo para resolver questões internas têm influenciado as canções do novo CD.


"Nos trabalhos anteriores, vinha exaltando muito o sofrimento, mesmo com humor. O próximo será diferente: mais leve, com a cara de um jovem homem de 42 anos", adianta.
O assédio dos fãs o instigou a procurar um canto afastado da badalação. Diferentemente do público dos artistas pop, que procura seus ídolos de maneira mais exaltada, porém fugaz, no caso de Vander Lee, que se considera bastante tímido fora do palco, as pessoas esperam intimidade e cumplicidade. "Elas vêm com uma espécie de afeto exacerbado e, por isso, não hesitam em me transferir seus valores. Começam a expor assuntos pessoais, o que é bom para elas, mas não para mim. Talvez isso ocorra porque faço música censura livre, usando metáforas e falando de sentimentos universais", acredita. Nos últimos tempos, essa situação começou a incomodá-lo. "A gente faz música, não sabe onde e como ela vai bater, nem o tipo de reação do público. Sucesso é algo sem controle. Houve um começo de idéias negativas", revela Vander Lee, que buscou na casa nova um espaço para se reencontrar. "Para quem precisa de espaço interno para criar, é mais difícil lidar com essas coisas", diz. Perdas

O contato com a natureza o tem ajudado a superar certas angústias e a explicar melhor, nas letras das canções, alguns percalços da relação com os fãs.
"O valor que me leva a compor é a minha liberdade.
Sou um rio que corre e precisa se sentir livre para enxergar os obstáculos".

Em alguns momentos, Vander Lee quis exorcizar perdas. Em três anos, o pai e duas irmãs morreram e ele resolveu compor para conversar com aqueles que se foram, dialogando com o imponderável. Canções como Onde Deus possa me ouvir, Meu jardim, Alma nua e Breu são desta fase – superada, segundo ele.

"Poderia ter buscado terapias, ter feito várias coisas, mas optei por criar música", resume.
No novo trabalho, a preocupação tem sido outra: "Estou a fim de ser sucinto, de caminhar mais intensamente pela estética das canções, e o resultado tem sido menos sofrido.


"De 1986 até 1997, quando gravou o primeiro disco autoral, Vander Lee treinou ao vivo, nos barzinhos da capital e da Região Metropolitana de BH, como obter o máximo de cumplicidade com a platéia. O artifício é usado até hoje para testar canções inéditas.
"Faço meu laboratório ao vivo. Adoro surpreender as pessoas com músicas novas nos shows, pois acredito na opinião pública." Diferentemente da grande maioria dos artistas, que entra no estúdio para desenvolver conceitos, Vander Lee já chega lá com o dever de casa cumprido nos shows. Passa, então, a se dedicar à decupagem e à escolha do repertório final – processo bastante solitário. "Artisticamente, sou mais fechado.
Sou meu departamento de criações e relações públicas", diz ele, que não abre exceção nem em casa para a mulher, a cantora Regina Souza. Vander Lee prefere manter certa distância do processo de criação da mulher para não interferir na personalidade dela. "Pelo fato de ser atriz, Regina é bem mais relacionada que eu e, talvez, necessite ouvir mais pessoas durante o processo criativo." Pai de Laura, de 13 anos, e de Lucas, de 16, frutos de um relacionamento anterior, e, de Clara, de 6, filha do casamento com Regina, ele confessa que conseguiu com a esposa uma condição próxima da ideal. "Ninguém melhor do que nós dois para entendermos um ao outro. Tentamos compensar as ausências com qualidade afetiva e emocional. Somos parceiros num projeto de vida", conclui.